A chuva fustigava parte do vale com a violência de uma tempestade. Nuvens escuras espiralavam no céu molhando as árvores e o solo, as vezes um trovão ecoava pela encosta da montanha como um rugido de um animal. “Continuem, mais forte” instigava Fraser do topo de uma pedra ao norte, a voz amplificada magicamente corria os terrenos e chegava até os outros três homens clara e límpida apesar do barulho da chuva.
Um desses era Bjord, designado para o ponto oeste que era o mais seguro dentre eles. Nem molhado estava, apesar de erguer a varinha e colaborar com a criação daquele toró. Uma luz turquesa emanava em ondas e vez ou outra ele tinha que puxar o próprio braço para não se deixar ser levado. A água escorria depressa para o rio e o lago levando junto entulhos e outras coisas. Dali podia ver o outro homem montado em uma vassoura sobrevoando a correnteza raivosa.
Foram três horas até as nuvens se dissiparem e o sol de inicio de tarde invadir os terrenos. Bjord se sentia exausto por usar tanta magia de uma vez só, mas também estava orgulhoso de si mesmo por ter contribuindo. Quando chegou no terreno da fazenda Fraser contava a um outro alguém o que tinham acabado de fazer.
A principio pensou se tratar de um novo funcionário, mas olhando melhor percebeu que o homem em questão vestia roupas muito bonitas e caras e tinha um olhar de ligeiro desprezo para o estado dos fazendeiros. Como já havia escutado aquela explicação mais cedo Bjord foi cuidar das mudas, estas seguras em uma estufa improvisada ao lado do curral. Foi a primeira vez que Bjord viu um cliente com os próprios olhos, geralmente eles não iam até os terrenos analisar o produto e confiavam no renome que tinha o lugar.
Como estavam se preparando para repor várias das árvores o trabalho manual era substituído por algo mais minucioso: escolher quais seriam as melhores mudas. Não é uma tarefa fácil quando se tem pouca experiencia, ainda mais se tratando de plantas de outros biomas. O trabalho de Bjord no entanto era bem mais simples; só precisava regar e repor os fertilizantes uma vez por dia.
Foi até um saco grande onde latas com pequenos furos descansavam em cima de um pó amarelado e as tocou com a varinha. Logo estavam flutuando por cima dos vasos alinhados e balançando levemente fazendo o fertilizante ficar no ar como uma espécie de pólen. Observou com atenção quando alguns espaços vazios tiveram pequenas
explosões de crescimento de sementes que se tornaram pequenos brotinhos verdes e tremulantes. Isso só acontecia uma vez ao dia e achava divertido assistir àquele pequeno milagre.
Enquanto regulava o sol artificial do tamanho de uma lâmpada percebeu que havia grama nascendo por todas as suas vestes, saindo das partes que sujou de lama. Teve que passar pelo atoleiro na volta para a fazenda no cume da montanha, era uma subida difícil com a terra molhada e instável então ele caiu e rolou algumas vezes. Leu que o fertilizante em questão era muito eficiente em plantas da família Poaceae, então em menos de dois minutos ele tomou a forma de um arbusto segurando uma varinha. Teve que sair depressa porque o
polén continuava no ambiente por muito tempo.
Deu azar de encontrar com Fraser e o visitante na entrada, estavam indo ver o progresso das mudas. O homem desconhecido mostrou pavor ao pensar que Bjord se tratava de um monstro ou um arbusto mágico perigoso. Escapou por pouco de não ser incendiado quando o proprietário da fazenda explicou que era só um funcionário em treinamento, que devia ter limpado as vestes antes de entrar nas estufas. A última fala como uma nota de aviso zangada.
Bjord assentiu e caminhou com dificuldade para perto do curral, onde deixou que a vaquinha leiteira que descansava com a cabeça na cerca de madeira comesse um pouco da graça de seu braço, depois de suas costas. Ouviu um grito de longe o mandando entrar para dentro e se limpar. Aparentemente Fraser e o visitante estavam assistindo a cena. Só assim se deu conta que podia parecer uma coisa estranha. Ele então seguiu a dica, ainda sem saber que feitiço teria que usar se quisesse salvar as próprias roupas.